Normando Bezerra - Um dos Fundadores da Fera

Entrevista publicada no jornal Tribuna do Norte, no dia 18/01/2009

O que levou você, vindo da distante Pau dos Ferros, a ter esse amor pelo Alecrim FC?
NORMANDO:Foi uma série de fatores. O primeiro meu pai, Pio Bezerra de Souza era torcedor do Alecrim. Quando cheguei em 1964 fui morar no bairro do alecrim, o time foi bicampeão estadual naquele ano, todos os garotos da época torciam pelo Alecrim ou ABC, já que o América estava licenciado pela FNF. Depois, vendo o Alecrim ser discriminado por alguns setores da imprensa, prejudicado por alguns arbitros e abandonado pelo comércio do bairro que lhe dá o nome, revoltava-me muito e fez o amor crescer. Como exemplo de discriminação pela imprensa, posso citar o jogo da primeira divisão do campeonato brasileiro de 86 contra o Atlético Mineiro, com seis jogadores da seleção brasileira, as 3 emissoras de Natal não transmitiram o jogo preferindo transmitir o jogo do América, pela segunda divisão em São Luiz do Maranhão.
Tem fundamento suas queixas constante contra os árbitros?
NORMANDO:Posso citar um jogo contra o ABC, quando o zagueiro alecrinense Ticão subiu para cabecear, Alberi o empurrou com as duas mãos e o árbitro deu pênalti contra o Alecrim. Outro episódio foi numa partida que o Alecrim precisava ganhar do América por dois gols de diferença e venceu por dois a um, o árbitro Jonaldo Batista deixou de marcar dois pênaltis para o verdão, tirando a nossa classificação. Outro jogo contra o América, Charles Elion marcou um pênalti inexistente contra o Alecrim aos cinco minutos da partida e aos dez toda a defesa do Alecrim já tinha recebido cartão amarelo. Depois o próprio Elion pediu desculpas aos jogadores alecrinenses.
A distância entre os títulos concorreu para a perda de novos torcedores?
NORMANDO:É evidente que influencia no afastamento do torcedor, até porque a maioria dos jovens só torce por time que vence. O maior exemplo é o São Paulo: quando criamos a FERA em 1977, eu só conhecia quatro torcedores do São Paulo em Natal. Hoje há milhares. Acho que o Alecrim é um fenômeno, pois ainda consegue atrair os jovens mesmo depois de 22 anos sem ganhar um título. O maior exemplo disso é que o nosso diretor de futebol, Marcelo Henrique Pereira, tem apenas 27 anos. Quanto à ausência de títulos após o bicampeonato de 1986, eu atribuo à falta de amor de alguns dirigentes que passaram por ele, nesse período.
Qual foi a sua maior emoção?
NORMANDO: Foram muitas emoções, parafraseando Roberto Carlos. Dentre elas o título de 85, depois de um jejum de 17 anos, o bi-campeonato em 86, quando pela primeira vez uma torcida organizada ganhou literalmente um campeonato pedindo dinheiro nas ruas para pagar os jogadores uma vez que o presidente do clube na época abandonou os atletas. Outra alegria grande foi junto com a torcida FERA ter evitado que o clube se licenciasse da federação por 8 vezes, consequentemente evitando o seu fim como aconteceu com 40 clubes do RN, em matéria divulgada pela TN. Não esqueço também a satisfação de poder homenagear meu clube quando coloquei o nome da minha primeira filha de Mircela, ou seja, Alecrim invertido.